sexta-feira, 9 de outubro de 2015

lembranças que não tive (ou listas de resultados para "e se...")

e se eu enviasse aquele email que escrevi, reescrevi, apaguei, tirei da lixeira, refiz pela terceira vez e decidi que era melhor deixar pra lá, teria tido resposta. noticias que vem de longe matar saudade que dói no peito, dizendo “vem me ver que te quero”. teria juntado todos os trocos, as moedas do fundo da bolsa, mochila, carteira. pegaria o primeiro ônibus pra ir de encontro ao inefável sentimento que é a paixão. chegaria ligeira e daria beijo cheio de vontade, os desconhecidos bateriam palmas, os pássaros cantariam pra nós, todos os cães na volta bateriam seus rabos por sentirem a nossa felicidade, o tempo nublado abriria e o sol brilharia mais forte pra nos iluminar, a terra pararia de girar só pra gente se encontrar. 


e se eu tivesse tido mais tempo com minha vó teria dito o quanto a amava. teria recebido amor em troca em forma de palavras. me convidaria a jogar canastra em uma de suas noites insones. ela me contaria - mais uma vez - alguma das historias de sua juventude, ficaria braba cada vez que se distraísse e eu lhe ganhasse no jogo. ia querer apostar, botar duas notas de cinco casadas na mesa. eu lhe diria que coloco depois. ela aceitaria. me convidaria pra beber uma cerveja enquanto jogamos. eu pegaria dois copos, ela diria que bebe no bico. jogaríamos durante toda madrugada. ficaria braba de manhã quando descobrisse que não tenho dinheiro. 


e se escolhesse continuar com o trabalho de carteira assinada. trabalharia oito horas por dia, cinco dias por semana. viajaria a trabalho, ficaria longe da família. ligaria pra mãe dizendo que tem saudade dela e do cachorro que já estaria velho e desanimado demais para latir pro telefone em modo de protesto pela minha ausência. sairia cedo, chegaria tarde. não sentiria no rosto o sol das quatorze horas de um dia de primavera, sentada num parque ao pé de uma arvore comendo bergamota. 


e se fosse marcar encontro com ele antes. me encantaria pela sorriso fácil de se arrancar com qualquer coisa boba que eu dissesse. saberia que é de coração mole e que se entregaria fácil a cada olhar dengoso que eu desse. teria dormido abraçando apertado desde a primeira noite pra ter juntinho sempre. acordaria feliz a cada manhã que despertasse ao seu lado recebendo beijo carinhoso de bom dia. teria café, almoço, lanche, janta e sobremesa acompanhada de risada e besteira. seria feliz do acordar até o adormecer.

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