Olá,
Na verdade não considero nada do que eu escrevi pra
essa disciplina cartas. Mas alguma coisa parecida com isso. São pensamentos,
mas não uma escrita formal, e nem um poema, mas com um pouco mais de sentimento
do que o normal. Ainda não sei bem definir a maneira como escrevo, mas por
enquanto, assim está bom.
Sobre ser tua aluna e te conhecer pela primeira vez.
Sempre dá medo de um professor novo, aquele medo de que seja um carrasco e que
me faça desistir de todos os meus sonhos e que apenas destrua comigo. Mas nao
foi assim. Foi uma das primeiras disciplinas que eu tive vontade de participar
da aula, de estar ali, de não faltar, independente da preguiça de acordar cedo
e independente de repetir a mesma coisa todas às terças-feiras, o mesmo
caminho. Mas valeu a pena, em quase todos os momentos o assunto tratado era uma
das coisas que eu estou me interessando: livros. A mania de cultuar livros, o
jeito como lidamos com as palavras, os problemas em escrever... Assuntos que
desde que eu decidi criar meus próprios livros (que não gosto de chamar de
livro de artista, mas ainda não sei como me opor a isso) tem me interessado, e
eu nem saberia por onde começar a pesquisar sobre isso, mas agora eu tenho uma
ideia.
O fato de ser livre pra escrever sobre e como quiser
me deu vontade de muitas coisas, a maioria da qual ficou só naquela frase de
efeito, como a frase que ouvi de um livro que foi passado em sala de aula “não
poderia um beijo de primavera matar-te”. A vontade de escrever sobre isso ainda
está no ar, o conto que poderia criar depois de ouvir isso ainda está na minha
mente, mas não conseguiu sair para o papel, e nem sei se um dia vai.
Também tive mais um momento bom sobre essa
disciplina, mais um pensamento bom. Sobre o quanto a palavra impressa está acima
da palavra dita, e o quanto isso incomoda, ou resolve os meus problemas ou pode
ser questionado. Minha opinião se encaixa em todas essas coisas, em como admito
que a palavra impressa é mais confiável mas também em como as vezes precisamos
apenas falar, sem pensar. Essas terças-feiras me fizeram refletir muito sobre
livros, palavras, voz e pensamentos.
Sobre a maneira como a aula foi dada não tenho do
que reclamar, é o tipo de aula que eu gosto. Discussões, informações
importantes, brincadeiras, tudo junto, sem pressão, sem obrigação de dar certo,
e pra mim, deu. Me senti bem ali. E
aproveito pra me desculpar por não ter seguido meus planos, de te entregar um
texto por semana, talvez a cada 15 dias. Mas o fato de não ter sido imposto
essas situações de prazos, me deixou feliz. E como discutimos em aula, o fato
de ser uma disciplina alternativa e não obrigatória faz toda a diferença.
Queria agradecer por ter dado essa aula e ter me feito mais feliz nesse
semestre.
Não sei se deveria dizer mas, a questão de falta de
prazo também me incomodou um pouco. Talvez eu, que queria ter escrito mais,
precisasse de prazos, mas talvez quem simplemente não consegue, talvez
desistisse devido a prazos. Se eu tivesse a obrigação de escrever um texto a
cada 15 dias, de um assunto determinado (na verdade não determinado, um pouco
em aberto, por exemplo, poderia ser escrito um texto sobre o assunto tratado em
aula, ou sobre o que quiser), talvez eu tivesse produzido tudo o que eu queria.
Eu sei que na verdade isso estava em jogo, mas não era por obrigação. Nos
poderíamos te entregar textos a qualquer momento, e alguns colegas o fizeram, e
eu não fiz. Mas acho que tem gente que precisa de um norte um pouco mais claro,
deixar os assuntos interessantes bem a vista, bem sublinhados, pedir seriamente
um texto sobre um assunto, talvez fizesse com que todos nos escrevêssemos um
texto de cada jeito, por que era uma vontade minha, e nessa liberdade toda que
me fez adorar a disciplina, acabei me perdendo.
Mas, não podemos esquecer que eu faço bacharelado e
não licenciatura. Minha relação com professores é, e por muito tempo será,
somente como aluna. E nem sempre o que me passa pela cabeça pode dar certo.
Queria dizer que apesar da evasão de uma boa parte
da turma, eu fiquei feliz com essa experiência, com as aulas em circulo, com as
conversas, com as trocas (principalmente com as trocas). Com tudo que descobri
sobre livros, com a sensação de estar tudo bem dar a minha opinião. E se não fosse pela professora, nada seria
assim.
No inicio achei chato toda essa coisa de sentar em
circulo, era como se a gente fosse obrigado a participar ativamente da roda, da
conversa. Mas no final, entendi que não, que na verdade é mais fácil de nos
vermos, e nos conhecermos e mais difícil de nos julgarmos. Quando não temos
paredes – cadeiras – na nossa frente simplesmente perdemos a coragem de
critica, e aprendemos a discutir sem machucar (apesar de que nas ultimas aulas
estávamos todos eufóricos)
Queria me desculpar contigo e comigo por não ter
escrito tanto quanto eu gostaria, mas queria dizer que esse semestre me fez
perceber que tá tudo bem reler um livro ou ler mais de um ao mesmo tempo, e
isso muda como eu vejo as coisas agora. Queria dizer que adorei os pontos de
partida, incendiários, questionários, e como tudo isso pode e vai virar texto.
Ainda sinto que te devo mais coisas escritas, mas não sei por onde começar, por
que as ideias são muitas, e todas anotadas, mas tenho que escolher uma – ah! A
maldita escolha! – e então, mãos a obra! Talvez um dia te mande um e-mail com
mais coisas que gostaria que lesse.
Por enquanto, fico grata – e não obrigada – pela
oportunidade de te conhecer!
Att, Margareth Levy
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