quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Carta para Paola Zordan

Olá,
Na verdade não considero nada do que eu escrevi pra essa disciplina cartas. Mas alguma coisa parecida com isso. São pensamentos, mas não uma escrita formal, e nem um poema, mas com um pouco mais de sentimento do que o normal. Ainda não sei bem definir a maneira como escrevo, mas por enquanto, assim está bom.
Sobre ser tua aluna e te conhecer pela primeira vez. Sempre dá medo de um professor novo, aquele medo de que seja um carrasco e que me faça desistir de todos os meus sonhos e que apenas destrua comigo. Mas nao foi assim. Foi uma das primeiras disciplinas que eu tive vontade de participar da aula, de estar ali, de não faltar, independente da preguiça de acordar cedo e independente de repetir a mesma coisa todas às terças-feiras, o mesmo caminho. Mas valeu a pena, em quase todos os momentos o assunto tratado era uma das coisas que eu estou me interessando: livros. A mania de cultuar livros, o jeito como lidamos com as palavras, os problemas em escrever... Assuntos que desde que eu decidi criar meus próprios livros (que não gosto de chamar de livro de artista, mas ainda não sei como me opor a isso) tem me interessado, e eu nem saberia por onde começar a pesquisar sobre isso, mas agora eu tenho uma ideia.
O fato de ser livre pra escrever sobre e como quiser me deu vontade de muitas coisas, a maioria da qual ficou só naquela frase de efeito, como a frase que ouvi de um livro que foi passado em sala de aula “não poderia um beijo de primavera matar-te”. A vontade de escrever sobre isso ainda está no ar, o conto que poderia criar depois de ouvir isso ainda está na minha mente, mas não conseguiu sair para o papel, e nem sei se um dia vai.
Também tive mais um momento bom sobre essa disciplina, mais um pensamento bom. Sobre o quanto a palavra impressa está acima da palavra dita, e o quanto isso incomoda, ou resolve os meus problemas ou pode ser questionado. Minha opinião se encaixa em todas essas coisas, em como admito que a palavra impressa é mais confiável mas também em como as vezes precisamos apenas falar, sem pensar. Essas terças-feiras me fizeram refletir muito sobre livros, palavras, voz e pensamentos.
Sobre a maneira como a aula foi dada não tenho do que reclamar, é o tipo de aula que eu gosto. Discussões, informações importantes, brincadeiras, tudo junto, sem pressão, sem obrigação de dar certo, e pra mim, deu. Me senti bem ali.  E aproveito pra me desculpar por não ter seguido meus planos, de te entregar um texto por semana, talvez a cada 15 dias. Mas o fato de não ter sido imposto essas situações de prazos, me deixou feliz. E como discutimos em aula, o fato de ser uma disciplina alternativa e não obrigatória faz toda a diferença. Queria agradecer por ter dado essa aula e ter me feito mais feliz nesse semestre.
Não sei se deveria dizer mas, a questão de falta de prazo também me incomodou um pouco. Talvez eu, que queria ter escrito mais, precisasse de prazos, mas talvez quem simplemente não consegue, talvez desistisse devido a prazos. Se eu tivesse a obrigação de escrever um texto a cada 15 dias, de um assunto determinado (na verdade não determinado, um pouco em aberto, por exemplo, poderia ser escrito um texto sobre o assunto tratado em aula, ou sobre o que quiser), talvez eu tivesse produzido tudo o que eu queria. Eu sei que na verdade isso estava em jogo, mas não era por obrigação. Nos poderíamos te entregar textos a qualquer momento, e alguns colegas o fizeram, e eu não fiz. Mas acho que tem gente que precisa de um norte um pouco mais claro, deixar os assuntos interessantes bem a vista, bem sublinhados, pedir seriamente um texto sobre um assunto, talvez fizesse com que todos nos escrevêssemos um texto de cada jeito, por que era uma vontade minha, e nessa liberdade toda que me fez adorar a disciplina, acabei me perdendo.
Mas, não podemos esquecer que eu faço bacharelado e não licenciatura. Minha relação com professores é, e por muito tempo será, somente como aluna. E nem sempre o que me passa pela cabeça pode dar certo.
Queria dizer que apesar da evasão de uma boa parte da turma, eu fiquei feliz com essa experiência, com as aulas em circulo, com as conversas, com as trocas (principalmente com as trocas). Com tudo que descobri sobre livros, com a sensação de estar tudo bem dar a minha opinião.  E se não fosse pela professora, nada seria assim.
No inicio achei chato toda essa coisa de sentar em circulo, era como se a gente fosse obrigado a participar ativamente da roda, da conversa. Mas no final, entendi que não, que na verdade é mais fácil de nos vermos, e nos conhecermos e mais difícil de nos julgarmos. Quando não temos paredes – cadeiras – na nossa frente simplesmente perdemos a coragem de critica, e aprendemos a discutir sem machucar (apesar de que nas ultimas aulas estávamos todos eufóricos)
Queria me desculpar contigo e comigo por não ter escrito tanto quanto eu gostaria, mas queria dizer que esse semestre me fez perceber que tá tudo bem reler um livro ou ler mais de um ao mesmo tempo, e isso muda como eu vejo as coisas agora. Queria dizer que adorei os pontos de partida, incendiários, questionários, e como tudo isso pode e vai virar texto. Ainda sinto que te devo mais coisas escritas, mas não sei por onde começar, por que as ideias são muitas, e todas anotadas, mas tenho que escolher uma – ah! A maldita escolha! – e então, mãos a obra! Talvez um dia te mande um e-mail com mais coisas que gostaria que lesse.
Por enquanto, fico grata – e não obrigada – pela oportunidade de te conhecer!

Att, Margareth Levy

Nenhum comentário:

Postar um comentário